Aposto que isso já aconteceu na sua empresa. Em uma reunião, surge a necessidade de fome por um projeto de inovação ou transformação digital. Mais um profissional, em palavras de tom muito confiante, brilha os olhos ao falar do quanto a sua área precisa se reinventar e inovar para crescer, a produção só não performa melhor pois os equipamentos não são de última geração ou não possuem recursos e sistemas suficientes para o controle estatístico de processo. Vamos criar um projeto para transformação digital para o ano de 2021!
A frase soa como música para os ouvidos do gestor, que em segunda mão lhe fornece uma carteira branca para levantamento do projeto, desde que o colaborador elabore um “Plano de Transformação Digital 4.0” e estime seu ROI.
O ROI? Sim, o famoso retorno sobre o investimento, mas como responder a uma pergunta inerentemente ilógica? O conceito de inovação, significa fazer algo novo, ou seja, nunca antes feito e sem premissas sistematicamente validadas. Portanto, o retorno sobre o investimento em um projeto de transformação digital situa-se entre o zero e o infinito. Alinhados até aqui, vamos à segunda parte da linha de raciocínio onde queremos chegar.
O que um projeto de inovação tem a ver com a corrida aos ratos, a tão disseminada a âmbito financeiro e pessoal?
A corrida dos ratos ou roda dos ratos, ilustrada principalmente no livro “Pai rico, pai pobre” de Robert Kiyosaki, remete ao ciclo vicioso e à inércia de gerar e produzir trabalho e não sair do lugar. Nós ocidentais, de modo geral, somos condicionados a um ciclo social resumido em:
Frequentar o colégio, fazer faculdade, conseguir um emprego, pagar impostos, financiar uma casa e um carro, produzir mais, ganhar um pouco mais, pagar mais impostos, fazer mais dívidas, arrumar outro emprego, desta vez melhor remunerado, ganhar mais, mais impostos, fazer mais dívidas e aumentar o padrão de vida, isto é, virar refém de um banco tradicional sob custódia do governo.
O fato é que as pessoas trabalham pelo dinheiro do mês, ou para os mais preparados, com uma reserva de emergência de até seis meses, mas manter sua aparência de sucesso vale mais que investir em um planejamento financeiro que lhe gere mais ativos que passivos.
A questão aqui, não é discutir qual plano financeiro pessoal vale mais a pena, e sim abrir sua mente para o que as grandes corporações e indústrias de manufatura vêm investindo seu tempo e dinheiro a custa de vender uma imagem de alavancagem digital ou passar uma atmosfera em possuir uma cultura ágil.
O que vem acontecendo na prática é que o Plant Manager recebe uma diretriz para transicionar para a digitalização a qualquer custo, pagar pelos mais robustos sistemas oferecidos no mercado, sem ao menos preparar o terreno e possuir um chão de fábrica a um nível de conectividade e prontidão mínimo para receber este tipo de tecnologia ou não priorizar uma dor real e possível de se calcular. Resultado, o ciclo se resume em construir projetos de inovação, aprovar Budgets homéricos, contratar consultorias milionárias para executar o projeto, apresentar um ppt com um design invejável e investir novamente. Aqui, lhe pergunto, alguém se lembrou de comprovar o ROI? (bom, vista grossa).
A diferença entre os falsos ricos e os ricos de verdade, é que os primeiros sempre trabalharão mais para ganhar um pouco mais e para gastar o que ainda vão receber no fim do mês. Já os verdadeiramente ricos primeiro adquirem ativos (algo que lhe gere alguma renda) e só compram bens que dão despesa e de alto valor depois de terem conquistado ativos suficientes para bancar o primeiro.
Por sua vez, traduzindo para as médias ou grandes Indústrias de Manufatura, é que a falsa digitalização acontece por meio de aquisição de tecnologias robustas na ponta ou fora da cadeia produtiva, onde se encontra o core da empresa. A prioridade de inovação geralmente é aplicada por áreas como Marketing e Pesquisa e Desenvolvimento, sendo as primeiras a serem anunciadas como inovadoras para atrair investidores, colaboradores e novas vendas. Em um segundo caso, o projeto é aplicado em um contexto de realidade do qual o chão de fábrica não possui sequer 40% de seus equipamentos automatizados, sensores ou sistemas unificadores de dados que irão incrementar pontos em eficiência na produção. Entenda, de nada adianta contratar um software robusto capaz de gerar insights que desenvolva modelos da machine learning se primeiramente sua operação não busca por um objetivo específico a ser melhorado, contextualizado e que vise obter eficiência em determinado processo produtivo. A busca por esses gaps deve ser o primeiro passo.
Tanto é assim que nós mesmos levamos um tempo para perceber a roda que estávamos inseridos quando decidimos mudar a nossa realidade e até mais, criarmos um negócio para compartilhar o nosso know-how em projetos de manufatura e mudar a realidade não só de muitas outras pessoas como contribuir para a indústria brasileira. Não precisamos cometer o mesmo erro de outras cabeças.
E aí, vai deixar sua operação viver na corrida dos ratos?